1- Apresente-se (biografia e o mais que queira falar).

    Sou Vera Carvalho Assumpção. Nasci e vivo na cidade de São Paulo. Comecei a escrever no milênio passado. Escrevi muitos contos que foramp premiadose participei de diversas antologias, entre elas a GERAÇÃO SUBZERO. Criei o detetive Alyrio Cobra que começou a ser publicado em 2003. 

Ele é um detetive paulistano que atua basicamente na cidade de São Paulo, cidade propícia ao noir. Alyrio Cobra protagoniza os livros: Paisagens Noturnas, Rigor da Forma, Peças Fragilizadas, Royal Destiny (finalista no 1º.Concurso ABERST de literatura e vencedor do Concurso Bunkyo de Literatura),Serpente Tatuada, Mandalas Translúcidas e Imagem Restaurada, além dealguns contos. 

 Em 2016 participei da BAN, Buenos Aires Negra, falando sobre:“Cocaína, a rainha das drogas e as investigações do detetive Alyrio Cobra”. Em2018 participei do PORTO ALEGRE NOIR coordenando a mesa “Detetives de ficção ontem e hoje” Em 2019 participei da “Quinta Noir” na FLIPOÇOS. 2020 fui vencedora do Concurso Ecos da Literatura na categoria e-book.


2- Qual sua opinião sobre o mercado literário no Brasil? 


    O mercado literário no Brasil não é o ideal, mas vem crescendo com qualidade. Várias editoras estão abrindo, as antigas estão se aprimorando. Também as plataformas digitais ampliaram o mercado. Uma novidade interessante é que temos cursos para a formação de editores e demais profissionais do mercado.


3-Qual pode e deve ser o papel do escritor em tempos de pandemia?

 

    Enquanto a humanidade não vence o vírus chinês, o escritor tem dois papeis. O primeiro, claro, é continuar escrevendo. O segundo é ficar atento e captar as mudanças que estão ocorrendo no mundo.

 Depois desta pandemia, omundo não será o mesmo. Vemos muitos negócios fechando, vivemos uma overdose de família. Crianças em casa tendo aulas pelo computador. Casamentos que não resistem à convivência contínua. O mundo virtual crescendo exponencialmente. 

Com todas estas mudanças, as pessoas confinadas, voltam a buscar o sentido da existência humana na Terra. Ao mesmo tempo em que temos de ter a mente aberta para captar as mudanças no mundo e no existir, temos de nos adaptar a elas e registrá-las. Vivemosvtempos sem precedentes!


4-Achas que o cenário pandêmico que vivemos pode aumentar o número de leitores?


    Sim, acredito que o cenário pandêmico tem aumentado o número de leitores e de leituras. As pessoas estão mais em casa e, apesar dos seriados, filmes e programações televisivas, o livro está muito presente. As estatísticas mostram que livros virtuais tiveram um aumento significativo nas vendas. As pessoas estão criando novos hábitos.


5- E o futuro? Tens a visão de uma luz no final do túnel? 


    No final de 2019 não houve um único astrólogo ou adivinho, por mais sábio e inspirado que fosse, que pudesse prever o que ocorreria no mundo emb2020. É muito difícil prever para onde vai o mundo pós vírus chinês. Por todo obmundo há cientistas super dedicados tentando criar a tão esperada vacina.

Com ela, acredito que as pessoas vão começar a se sentir mais seguras. E vão retomar suas vidas. Claro que num patamar diferente. Há muita gente que teve de fechar as portas de seu negócio e não tem mais como recomeçar. Há osque conseguiram se adaptar e estão sobrevivendo. 

Há os que aproveitaram o tempo e fizeram cursos e se capacitaram para novos empregos, novas funções. Famílias com crianças estão passando sérias dificuldades, orientando-as nas aulas on-line, e com salários reduzidos. Neste momento, na Europa, estão reabrindo os locais públicos e estão vendo surgir uma nova onda do vírus. 

Acredito que enquanto não tivermos a vacina e o mundo inteiro vacinado, teremos sempre novas ondas da doença. Falam que temos de nos adaptar a um novo normal, mas ninguém sabe bem o que é este novo normal. Uma coisa é certa, o medo do vírus vai permanecer por muito tempo.


6-Espaço para considerações finais.


    Com a pandemia aprendemos que nosso corpo é frágil e mortal e que nossas possibilidades são limitadas. A pandemia nos mostra que, apesar de termos tecnologia para ir a Marte, somos apenas uma das espécies que vivem na Terra, dependente de uma complexa rede de relações

 Ela nos mostra que, mesmo com toda a dedicação dos incansáveis profissionais de saúde, há forças que o ser humano não consegue dominar. Com o confinamento, voltamos a ter a visão do mundo como um mistério, voltamos a procurar pelo sentido da existência humana na Terra.

    Há poucos dias li uma frase na internet que achei que define muito bem nosso tempo. “Eu pensei que os pobres sairiam a assaltar e roubar os mercados por fome, porém foram os políticos que saíram a roubar o dinheiro dos pobres.”

    A pandemia trouxe o medo de se contrair a doença, trouxe muitas mudanças de hábitos, a necessidade de adaptação a estas mudanças. Trouxe muita tristeza aos que perderam familiares e amigos queridos. Mostrou-nos a dedicação dos profissionais de saúde, incansáveis no atendimento às vítimas. E trouxe também grandes oportunidades para os políticos desviarem dinheirobna construção de hospitais de campanha, na compra de respiradores e outros equipamentos necessários aos hospitais, etc. 

Deve ter trazido mais dureza de alma aos que enriquecem vendo pessoas se afogando no seco sem ter equipamentos para sua salvação. Eu sou escritora, vivo em uma grande metrópole onde muitas pessoas não conseguiram parar de sair às ruas para trabalhar e onde o número de mortes é grande. Não sei o que será daqui para a frente. Só sei que a vida na terra seguirá seu curso. 

E nos escritores temos de estar atentos, pois um dosbobjetivos da literatura é ordenar e transmitir a experiência humana. Na luta para dominar o vírus, voltamos a ter a visão do mundo como um mistério, voltamos a procurar pelo sentido da existência humana na Terra. A pandemia nos traz a volta perguntas sobre a natureza do homem e sobre a origem do mal.