Já diziam nossos antepassados que “o silêncio é de ouro, a palavra é de prata, mas a gritaria é de lata.”

    Nas tradições americanas nativas cada vez que se reuniam usavam um ‘bastão que fala”.

Ele permitia que os membros apresentassem seu sagrado ponto de vista e que seriam ouvidos na sua vez de falar. 

O bastão que fala, passava de mão em mão a medida que a reunião seguia, apenas

quem estava de posse do bastão, podia falar naquele momento.

    Perguntas e respostas igualmente deviam ser feitas apenas quando o portador do bastão

o apontasse para baixo, indicando que havia terminado seu ponto de vista.

 Então quem tinha uma pergunta recebia o bastão, após fazer sua pergunta entregava

ao antecessor para receber sua resposta.

Cada pessoa presente na reunião devia ouvir com atenção as palavras ditas, de forma que

ao chegar sua vez não repetisse as mesmas palavras, nem fazer perguntas

ou observações impertinentes.

    As crianças nativas aprendiam a escutar e a falar a partir dos três anos de idade.

Aprendiam também a respeitar o ponto de vista dos outros, isso não quer dizer que não

podiam discordar, mas que eram obrigadas por sua honra pessoal a permitir que cada

um expressasse seu sagrado ponto de vista.

Dessa forma as tribos nativas americanas davam séculos o exemplo, ensinando as crianças o hábito de falar e ouvir, assim como respeitar o ponto de vista das outras crianças.


SABIAM QUANDO OUVIR OU FALAR


    Saber ouvir ou calar dava aos nativos a oportunidade de aprender com as experiências alheias e após filtrar  as mais uteis, estar preparado para dar a sua opinião.

    Os nativos iniciantes na arte da conversa respeitavam a ideia de que deviam ouvir primeiro para aprender a se pronunciar. 

Ouvindo os mais antigos do grupo assimilavam as expressões usadas e a ordem que a sua

fala devia ser feita, ou seja, aguardavam sua vez para o momento propicio e ainda

esperavam autorização para começar a falar.

    Para fabricar o bastão que fala, utilizavam qualquer “pessoa em pé”, ou seja arvores.

Cada peça de material utilizado no bastão era diferente do outro porque é diferente

as qualidades de cada tipo de pessoa em pé que possibilitava um diferente tipo de energia.

 Por exemplo; o pinheiro branco é a árvore da paz, o abeto simbolizava a verdade e as plantas sempre verde representavam o crescimento continuo de todas as coisas.

    Outras árvores como o cedro denotam limpeza e o choupo é símbolo da visão, já que seu tronco é coberto por muitas formas que lembram olhos.

 O boldo por sua vez, era usado para o conselho das crianças pois representa a suavidade, a

doçura e favorecia a sabedoria.

    A cereja brava, era usada para assegurar proteção e o carvalho em prol da força, a cerejeira em proveito de expressar as emoções fortes ou o amor. 

As árvores frutíferas representavam a abundancia e a nogueira propiciava a concentração de

energia para o inicio de novos projetos.

    A pessoa que fabricava o bastão devia decidir o tipo de pessoa em pé que melhor servia as suas necessidades e reunir as qualidades necessárias para apresentar ao conselho tribal a ornamentação necessária do bastão, como suas cores e contas, já que cada um tinha seu próprio significado.

    O vermelho representava a fé. O amarelo o amor,  azul a intuição, verde a força de vontade, rosa a criatividade,  branco o magnetismo, roxo a cura e a gratidão. 

A cor laranja e outras cores vivas, representavam o parentesco entre as tribos. A cor

cinza representava a amizade e a sabedoria e o marrom a conexão com a terra,

As cores pasteis serviam para exaltar a profecia, o preto favorecia a harmonia e a audição.

 A transparência do cristal é benéfica para a clareza e a concentração.


USAVAM AS PELES E OS PELOS DOS ANIMAIS


O tipo de peles e penas usadas no bastão também era muito importante pois cada criatura viva possui sua própria  capacidade de cura e contribui para a magia do bastão, assim contribuindo para a energia dos conselhos tribais nos quais era utilizado.

    A pena da resposta era uma pena de águia que representa ideais elevados, a verdade vista pelo olho perspicaz da águia, assim como a liberdade de falar toda a verdade.

A pena da resposta também podia ser uma pena de peru que era considerado a águia da paz do Sul, representando  as atitudes pacificas e também a negociação necessária para reprimir as disputas.

Nas tribos que veem a coruja como ave de honra sua pena podia ser usada para impedir que

a fraude penetre no espaço sagrado do conselho.

    As peles e os pelos e os couros utilizados na confecção  de um bastão traziam as habilidades, os talentos, dons e poderes curativos destas criaturas para dentro do conselho das mais diversas maneiras.

O búfalo trazia abundancia e o cervo a brandura, o coelho a capacidade de ouvir com suas

enormes orelhas. O pelo da cauda ou da crina do cavalo trazia perseverança e aumentava

a conexão com a terra e com os espíritos do vento. 

    O bastão que fala era usado no ensino das crianças, nas reuniões do conselho das

nações em eram necessárias decisões mais relevantes.

Durante as disputas, nos rituais de conjuração.

Nos círculos formados para contar histórias ou nas cerimônias em que mais de uma pessoa falava.

    O bastão que fala era usado pelos nativos para que cada um aprendesse a honrar o

sagrado ponto de vista de todas as criaturas vivas, receber sábios conselhos, honrar a

sabedoria e os ensinamentos dos mais experientes para ampliar o seu conhecimento

e se relacionar de uma forma mais criativa com os outros nativos.


OS ENSINAMENTOS DOS NATIVOS


    Os nativos sabiam que a grande roda da vida possui muitos raios, mais cedo ou mais

tarde as lições que aprendiam nestes raios os colocava mais perto da totalidade da harmonia ao desenvolver a paciência para com aqueles que não aprenderam estas lições. Estas lições lhes davam a oportunidade de os tornar mais íntegros e harmonizados.

    A pessoa que segurava o bastão que fala devia doar-se para chegar ao coração dos

seus ouvintes, e ter sua fala interpretada assim como suas intenções com as palavras ditas.

Para os nativos o que valia era a energia da intenção, não as palavras que nasciam do

seu ego porque as verdadeiras palavras vinham do coração e demonstravam a verdade e

a intenção por trás delas.

Sabiam que de acordo com o processo natural da semeadura uma palavra tem a capacidade

de produzir muitas interpretações diferentes então deviam ter consciência de que tudo

que falavam, ouviam em proporções maiores, dando assim capacidade de aumentar o vocabulário.

Deviam entender que eram o resultado das suas palavras que iniciava quando falavam

e o seu resultado final era aquilo que a outra pessoa entendeu.

    É impossível colher amor se falamos de ódio. Impossível colher perdão se

semeamos intrigas. Impossível colher paz se semeamos a guerra.

Devemos aprender com os nativos a analisar cuidadosamente o tipo de palavra

que estamos espalhando. 

Precisamos selecionar melhor as nossas palavras e não podemos esquecer jamais que somos livres para fazer as nossas escolhas, mas somos escravos das consequências dessas mesmas escolhas.